Powered By Blogger

sábado, 6 de fevereiro de 2010

MARIA GERALDA

       Maria, Maria Geralda, era o nome dela, tinha os ólhos castanhos, trazia em si um jeito todo especial de ser, pensando bem, não me lembro de te-la visto triste, ou lamentando a vida que levava, era gordinha,
tinha os cabelos castanhos e bem finos, ela passava "babosa" nos cabelos para deixa-los saudáveis, era muito bonita, gostava de ve-la com seu vestido de linho branco que vestia para ir à missa aos domingos, em Andradina ela tinha um outro vestido preto com um aplique branco, e nele tinha botões preto com fundo branco, ainda tenho guardado seu vestido e os botões dessa minha lembrança; Ah! Guardo também, e, com carinho e ciúme seus livros de oração, que não conseguia entender porque os tinha, e os trazia consigo,ela não sabia ler, mas com o passar do tempo entendi, eu aprendi rezar o terço e, ela tinha vários e rezava, para quem reza o terço não precisa ter leitura, tenho guardado seu terço de contas e a cruz de Nosso Senhor em aço incrustado e o acabamento de fundo em resina, estão na estante "a Trezena de Santo Antonio e a Liturgia da Missa" do ano de 1973 e tem lá dentro marcando seus santinhos e uma fita de algodão branco; que lindo o "Missal Dominical São Paulo" 3ªEdição de 20 de Abril de 1953 e da mesma época "A Imitação de Cristo" do Padre Thomas de Kempis, êsses patrimónios ela me deixou, mas tenho em minha memória momentos que hoje me fazem rir, foi um dia que ela veio me bater, é, nàqueles tempos a educação era corretiva com cinto, e ela pegou um cinto do meu irmão que já era falecido, um cinto largo de lona, quando ele serviu o exército, conforme ela me batia eu não sentia dor e comecei a rir e a abracei, tentava me açoitar e não conseguia; Ela ficou brava, passou a perna em mim, me derrubou, ela caiu por cima de mim e mordeu toda minha cabeça depois ela chorou, acho que foi a primeira vez que a vi chorar, em seguida eu chorando e ela tratando minha cabeça com agua oxigenada e espremendo "Bálsamo" nas mordidas. Nessa época morávamos em um asilo de viúvas (Bom Samaritano) onde fomos acolhidos em 1962, ficamos ali até 1967 quando mudamos para casa própria no Jardim Europa, muito distante do centro da cidade, ela sempre trabalhou de empregada doméstica e trazia para casa roupas para nós e comida ao anoitecer; Aprendi com ela que toda graça é bem vinda e sempre demos graças ao Senhor Nosso Deus, foi assim que ela nos ensinou, dizia em seus conselhos à luz de lamparina antes de deitarmos: "Cuidado com que voces falam, cuidado com o que fazem, paredes tem ouvido e mato tem ólhos, andem "limpos", não importa a roupa que usem, tenha-a com remendo, mas limpa e passada, tenham os cabelos cortados e penteados, sejam honestos e todas as portas serão abertas." Quem escuta o Evangelho tem sabedoria. Ela não sabia ler, veio a aprender no Mobral em 1974 e ela passou a escrever seu nome em margens de jornais, nas margens da Biblia,(ela tinha uma Biblia que também guardo com minhas lembranças) escrevia como se quizesse perpetuar seu nome, não precisava, a Maria Geralda é perpétua, ela não vive no tempo visível e nem no invisível ela vive em mim, no meu amor!!! "Viver nos corações que ficam não é morrer"
   
                                                                                                                      P.Ramos.
                                                                                              06Fev.2010