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quinta-feira, 25 de março de 2010

Chaves do tempo

     Hoje procurando alguma coisa nos armários encontrei algumas chaves, não era o que procurava, mas,
elas estavam ali, fiquei contemplando e lembrei-me que são minhas, mas não tenho mais as fechaduras para utiliza-las, as fechaduras pertencem a um passado muito distante, que agora me veio na lembrança, foi quando cansado de meu caminhar retirei do armário coisas inúteis e as ajeitei em malas, eram pesadas e as levei por muitas viagens até deixa-las em guarda-volumes pelas estação rodoviária onde ia encontrar o caminho para levar-me longe delas, nelas tinha guardado muito do meu amor, também guardei do meu ódio, da minha ira, do meu rancor, da inveja e das mentiras que contei porque não tinha como dar a verdade que então tinha em mim. Olho para as chaves inúteis em minha mão e lembro do sonho da "Alta Montanha" onde teria o mais alto conhecimento e em uma delas ficou esse sonho, lembro desse tempo quando ajeitei as roupas velhas, era a camisa desbotada, a meia corroída nas pontas, a calça desgastada pelo uso, a velha jaqueta que foi comigo para tantos lugares protegendo-me do vento frio das noites de inverno, dessas muitas coisas fiéis à mim as juntei em uma trouxa com a maior peça bem amarrada e a coloquei com tristeza na porta de casa.
     As malas não sei mais como busca-las porque venceu o prazo de retirada do guarda-volumes, naquela época senti-me vazio e ausente de mim, tive a sensação de ter me abandonado, porque ficou a alma em um caminho, o espírito optou por outro caminho, e meu corpo adoeceu, fiquei caminhando como alma presa a terra ou como fogo fátuo indo em qualquer caminho que o vento leva, mas eu tinha ainda malas que deixei quando sentei em algum banco de qualquer lugar, cansado do meu caminhar e de levar o peso dessas malas, tomei coragem e as deixei, afastei-me delas silenciosamente para não acordar o que ali existia, não sentia saudades, porque não as tinha mais comigo, mas hoje, quando olho para uma das chaves lembro das cruzes que teria de levar no topo da "Alta Montanha", lembro também, quando disse à minha alma vamos voltar e encontrar os teus passos, lembra quando você ficou andando em círculos pela Catedral da Sé, pois não sabia para onde ia, tive saudade de mim, queria então encontrar meus passos, ao menos os últimos. E, me encontro, cansado e coloco meus braços em volta de mim fico de costas para o reflexo das vítrines das lojas e sinto o calor do meu espírito que estava à procura dos último passos, meus lábios de tantos beijos ficaram ressequido à espera dos lábios que sorriem para mim, emocionado sinto meu corpo sair da sua doença, pois, quer vida.
     Todo esse desencontro tem que ter um fim, não posso mais ficar em silêncio adormecido nos dias que passam e a doença persiste em me apunhalar, e faz-me fraco diante da abundância do ar da vida, faz-me lembrar das palavras de Joseph Conrad em "Lord Jim";"Quão horrível é ver um homem convicto, não de um crime, mas de uma fraqueza mais que criminosa."
     Peço agora; vem vida, vem amor e traga em teu chegar um "cadinho" de ti, do teu amor e da tua compaixão.
                                                                                              25Mar.2010

                                                                                                                          P.Ramos.

sábado, 13 de março de 2010

Anotações do Caderno

      A alegria de um certo tempo, onde aconteceu essa alegria e as pessoas que ali estavam não existem mais, algumas pessoas morreram e outras não sei por onde andam, o historiador do tempo já é morto, porque, pelo que me conta, é história de muitos tempos, me sinto conturbado com todas as histórias porque chegou a noite e o silêncio abafou dentro de mim a recordação da rua com seu burburinho, seu proprio som, sua propria vida, seu tempo, sua musica, mas em mim que vivi em ti ouço tuas historias, foram os velhos que me contaram coisas de um tempo, passei.., e algo em mim diz: És vivente e tens aqui sentido para tua vida, e, é hoje. Agora neste silêncio que o teu coração te fala, tem em ti os ólhos da dama que te ama, dos filhos perto e distantes tens tua vida, tens a oração que te enlevas para perto da alegria de Deus, tens a rua da lembrança que se movimenta em ti, tens poemas e cânticos renovados por ti, tens  agora no silêncio dessa noite deserta o que deves movimentar a vida, são tuas lembranças que mexem com a água do lago, sois a pedra atirada que fazem ondas enquanto aqui estiveres procurando por ti. Eu sei...Mas agora fica o vento lá fora movimentando a noite, logo mais será dia.
 
                                                                                                            24Ago.2003                                                                                                                                                                      P.Ramos.